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11 de maio de 2010

13 de maio – Uma revolução social no Brasil

Refletir sobre a realidade social brasileira a partir do dia 13 de maio pressupõe uma visão mais crítica acerca da lei que libertava os escravos, implantada no Brasil em 1888. Por que a data 13 de maio deixou de ser comemorada e pouco analisada no calendário nacional e escolar?
Em todos os países da América que viveram sob um regime escravista, a data da abolição é comemorada. Ao contrário do Brasil, que faz questão de esquecer o 13 de maio. Podemos atribuir esta amnésia social do Brasil a vários fatores: a omissão de uma sociedade que sempre fechou os olhos para os grupos que não se adequavam ao modelo europeu imposto pelos colonizadores; esta mesma sociedade que se sente culpada pelo regime escravista, por defender a criminalidade deste processo; o 13 de maio deixou de ser o referencial de lutas do povo brasileiro.

Por outro lado o Estado brasileiro tem uma dívida social muito grande com a população negra deste país. O que contribui para o esquecimento de um regime criminoso escravista.

Considerar o escravismo um crime contra a humanidade, denota falta de caráter e ética de qualquer sociedade que adota e que aceita esta prática cruel e desumana.

Para que fique claro o fato de ser uma data que hoje nos remete à 1888, gostaríamos de fazer uma reflexão sobre a realidade da população negra daquela época e associá-la ao mundo contemporâneo, onde sentimos a necessidade de que a escola e a sociedade a considere como símbolo da nossa história.

No dia 13 de maio de 1888, ao assinar a Lei Áurea, a Princesa Izabel não estava dando a liberdade aos negros escravos como ato de redentorista e de bravura. Ela simplesmente assinou a confirmação de que este regime foi um erro para a sociedade brasileira e que o Estado Brasileiro se redimiu perante o crime cometido contra uma população que se tornava consideravelmente grande. Neste período, o dobro da população negra existente no Brasil já tinha conseguido a liberdade através das cartas de alforrias, das leis anteriores à Lei Áurea, através também das lutas dos quilombos.

Portanto, o país já passava por uma situação insustentável, principalmente por que existia uma pressão estrangeira para eliminar o regime de escravidão em toda a América.

A abolição do escravismo já estava sendo discutida durante todo o processo em que foi implantada no Brasil. Neste contexto surgiram negros ilustres discutiam a questão do escravismo, aliado ao favorecimento que a Guerra do Paraguai deixou como resultado. O exército brasileiro formado em sua maioria por negros lutou para defender as divisas do país.

Com isso, o próprio exército passou a negar seu envolvimento na captura de negros fugidos.

Com medo de uma revolução social, uma revolta da população negra, a Assembléia Nacional votou decidindo o fim do escravismo e em 13 de maio a lei foi assinada.

Porém, a lei deveria ter sido votada com amplo apoio do Estado, com indenizações e reintegração dos negros libertos à sociedade brasileira. O que não ocorreu, transformando uma grande massa de negros libertos em uma massa de excluídos do contexto social, econômico e político brasileiro. Para não manchar a história brasileira, o enredo foi deturpado, considerando até que o regime escravista brasileiro foi brando e que os escravos eram bem tratados pelos senhores.

A Lei foi incompleta, negando uma população de direitos: sem direito a terra, a moradia, ao trabalho, e a nossa sociedade ainda padece sob estas desigualdades.

Contudo não podemos deixar de considerar que o 13 de maio foi um marco que confirmou a revolução da população negra brasileira organizada e sedenta de direitos. O dia em que o Estado Brasileiro considerou a escravidão um crime e abriu precedentes para que a sociedade pudesse julgá-la.

(Professora Jussara Araújo – professora de História da EREM de Itaparica)

7 de maio de 2010

A aldeia vai à escola nos 510 anos de colonização brasileira

Como nos últimos anos os estudos históricos têm passado por uma ampla renovação, o lugar do povos indígenas na História também está sendo revisto. O "descobrimento" passou a ser discutido como resultado do processo de expansionismo europeu no século XVI, através da colonização, onde muitos diferentes povos  e culturas das consideradas "terras descobertas" se confrontaram com os violentos processos das invasões dos seus territórios e da imposição cultural do seu colonizador (Silva, 2002,p.45-46). O papel da escola neste contexto é buscar superar os equívocos apresentados sobre os povos indígenas na história oficial , atualizando os conhecimentos sobre os mesmos para compreendê-los como sujeitos participantes da história. Para tanto se torna necessário discutir o sentido dos 510 anos de História do Brasil do ponto de vista oficial sobre o processo de colonização e do ponto de vista indígena de resistência à colonização, as reivindicações para o reconhecimento e garantia de seus direitos violados, perpassando por uma análise sociológica da questão, reconhecendo assim uma pluralidade étnica e cultural do Brasil atual.
O Projeto A aldeia vai à escola nos 510 anos de colonização brasileira vivenciado pelas turmas do 1º Ano da EREM de Itaparica teve como objetivos: situar o indígena como sujeito participante do processo de colonizaçao brasileira, desmitificando a idéia de descobrimento do Brasil; analisar a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manoel e reescrevê-la sob a ótica dos povos indígenas que aqui se encontravam; conhecer os povos indígenas de Pernanbuco, identificado os povos localizados no sertão. Por fim, apresentar aspectos da cultura, tradição e religiosidade dos povos Pankararu e Pankaiwka, povos indígenas do município de Jatobá. Diante das reações às invasões de suas terras e estando sujeitos às diversas formas de violência, os povos indígenas também enfrentaram guerras, doenças transmitidas pelos colonizadores, escravidão, preconceitos e, principalmente, a violência cultural, o que os historiadores denominaram de invisibilidade de uma população. O Brasil de 1500 abrigava aproximadamente seis milhões de indígenas, distribuídos em mais de 900 povos com culturas diversas e diferentes modos de vida. Nas últimas décadas ocorreu o ressurgimento de vários povos indígenas. O que caracteriza uma mobilização para afirmar uma identidade étnica, apesar de todos os fatores que conduziam a uma negação dessa identidade.


No período de 19 a 23 de maio de 2010, a escola vivenciou uma semana dedicada às discussões, debates e análises de textos sobre a temática índios e colonização no Brasil. A partir da abordagem da história oficial, contextualizando com a história indígena,os alunos puderam ter uma visão mais crítica sobre a diversidade de povos indígenas que foram encontrados no início da colonização e o conhecimento dos  povos indígenas que hoje lutam pela garantia de seus direitos e pelo direito à terra.
A população indígena em Pernambuco é formada pelos Fulni-ô (Águas Belas), Xukuru do Ororubá (Pesqueira e Poção), Kapinawá (Ibimirim, Tupanatinga, Buíque), Kambiwá (Ibimirim), Pipipã (Floresta), Pankará (Carnaubeira da Penha), Atikum (Carnaubeira da Penha e Floresta), Truká (Cabrobó), Tuxá (Inajá), Pankararu (Tacaratu, Petrolândia e Jatobá), e os Pankaiwká (Jatobá). Estando esse último povo reivindicando o reconhecimento oficial.
Durante a exposição e apresentação de pesquisa sobrem o povos indígenas de Pernambuco, o povo Pankararu se fez presente para contar sua história de luta, resistência e garantia de seus direitos. O povo Pankararu ocupa uma área denominada de Brejo dos Padres, no Sertão pernambucano, próximo à Usina Luiz Gonzaga, às margens do rio São Francisco, com limites constituídos entre os municípios de Tacaratu, Petrolândia e Jatobá. O grupo Pankararu foi um dos primeiros a serem reconhecidos oficialmente no Nordeste.
O povo Pankaiwka se formou a partir da organização de pessoas provenientes da aldeia Pankararu - PE e Geripancó - Al, fugindo das péssimas condições de vida e atraídos pelas terras banhadas pelo São Francisco, com a possibilidade de vida digna para suas famílias. As terras ocupadas estão localizadas às margens do rio Moxotó, no Distrito de Volta do Moxotó no município de Jatobá - PE.
A EREM de Itaparica se caracteriza por ser uma escola que prima pela diversidade cultural. Como no município habitam dois povos indígenas: Pankararu e Pankaiwka (este em processo de oficialização), a escola recebe alunos destas etnias, que convivem com o preconceito, principalmente pelo desconhecimeno histórico dos povos indígenas. Por isso, o projeto despertou um respeito pela questão indígena, especificamente um respeito pelos alunos indígenas. 
Foi assim, confiamo-nos todos nos homens brancos, toda nossa riqueza. Lhes mostramos tudo e diziam que iam nos ajudar, diziam que nossa vida iria melhorar, que estavam falando a verdade, que eram nossos amigos. Mas estávamos enganados, os homens brancos só queriam tomar nossas riquezas nossas terras e nos escravizar. Antes dos homens brancos chegarem em nossas terras andávamos satisfeitos. Com a chegada dos brancos não houve mais limite, nossas riquezas foram retiradas  (Trecho do texto dos alunos Jeferson Silva, Jônatas Wesclin, Alan e Ângelo do 1º C)
Tentaram nos conquistar, nos atrair através do que tinham e do que haviam trazido, tudo parecia ser interessante, aos poucos fomos cedendo. No entanto, não queriam apenas nos visitar ou nos conhecer, possuíam objetivos maiores, que no fim das contas acabaram nos prejudicando. O que tinham em mente era a exploração de tudo aquilo que aos nossos olhos eram riquezas naturais. Fomos ingênuos. Tudo o que era nosso foi tirado por invasores que nos diziam ser amigos. (Trecho do texto dos alunos Jayane, Júlio, Márcia e Vitória do 1º A)
Sou índia de uma aldeia
que muito tem a contar
seu valor inestimável
nem todo dinheiro do mundo
conseguirira comprar

Minha aldeia tem cultura
menino do rancho e tem os praiá
vai Francisca varrer o terreiro
moer a cana, fazer garapa
que o toré vai começar

A minha aldeia é produtiva
macaxeira, milho, feijão
goiaba, acerola e cana
e sem esquecer das bananeiras,
é fartura de montão

Tem também o artesanato
brinco, pulseira, roupão
fabricado com os frutos da terra
conhecimento riquíssimo
passado de geração em geração

Foi através de várias lutas
que conseguimos alcançar
reconhecimento da nossa aldeia
que cada dia cresce mais linda
com os frutos a brotar

Com tanta riqueza assim
fica fácil de falar
tenho orgulho de minha aldeia
terra de povo guerreiro
SOU ÍNDIA PANKAIWKA

(Daiane Souza de Araújo, 4º Normal Médio)